Estreia
nessa sexta-feira (06), nas salas de Cinema do Dragão, um dos filmes mais
importantes de 2013, que começa a liderar as listas de critica do mundo inteiro
como o melhor do ano. O Diretor Fantasma já viu o filme e adianta aqui o que se
pode esperar das três horas que contam a vida de Adèle.
O filme deve cair no gosto do
publico LGBT porque, enfim, a temática não permite um longo distanciamento disso
mas, como em toda história contada no cinema, não é descartada a identificação
dessa história de amor entre duas mulheres com qualquer outra.
Atriz Léa Seydou, o diretor Abdellatif Kechiche e a atriz Adèle Exarchopoulos. |
Ganhador da palma de ouro em
Cannes este ano o filme ganhou de cara o titulo de polêmico por mostrar tantas
cenas de sexo de maneira tão aberta (planos abertos) para um júri e festival
conservadores. Depois dessa explosão que foi o prêmio o filme ganhou um destaque
gigantesco nas mídias. Agora com as campanhas de exibição nas salas do mundo
inteiro o filme é um forte candidato para o Oscar ano que vem e deve arrastar
uma leva de prêmios menores até lá.
O filme é uma adaptação da
história em quadrinhos da francesa Julie Maroh. A autora é engajada nas lutas
por direitos dos homossexuais na França e em seus quadrinhos, em boa parte,
retratam esse tema, como é o caso de Le Bleu
est une Couleur Chaude adaptado para La Vie D’Adèle. Nos quadrinhos o nome
de Adèle é Clementine e aos 15 anos se apaixona por Emma e seus cabelos azuis,
o amor avassalador que precisava para por fora sua liberdade. Nos quadrinhos o
engajamento pelas questões desconfortáveis das relações homossexuais é mais
presente do que no filme, além da história se passar no norte da França e no
filme tudo acontecer em Paris. Confira o blog da jovem ilustradora francesa: Link
Adèle, com seus 17 anos, (nos
quadrinhos aos 15) descobre seu gosto por mulheres ainda no colegial de maneira
indecisa. Mesmo se descobrindo e recebendo os deboches de seus amigos pela
desconfiança sobre sua opção sexual, ela se aventura na procura por essa
confirmação e acaba se apaixonando por Emma, uma pintora estudante de Belas
Artes que se encanta com a beleza de Adèle e sua atmosfera doce e jovem. Um encontro
repentino na rua e a troca de olhares curiosos de ambas, somado com a
imaginação literária de Adèle foram o bastante para a adolescente conflitar-se
sobre sua sexualidade.
Tímida, bela, doce e pragmática
- apesar do gosto literário – Adèle é uma menina que come de boca aberta no começo do
filme e no fim se transforma numa adulta sem perceber. Adora literatura e
pretende ser professora de maternal por amar crianças, mas depois que conheceu Emma
suas perspectivas se fortificaram mais ainda. A vida de casal das duas
proporcionou e exigiu ao mesmo tempo uma nova postura de Adèle. Porém seu
lado mais pragmático de ganhar e viver a vida foi o leve ponto - não o único -
de desencaixe de sua vida amorosa, entre tantos encaixes e concordâncias das
duas, pois sempre estava rodeada de grandes conhecedores da arte e amantes da
filosofia que defendem a leve significância da vida e as maneiras também leves
de vivê-la. Já Emma é a figura da experiência, que não perde a paixão pela vida
e pelo amor. Estuda Belas Artes e pinta Adèle como uma musa, é rodeada de
amigos que atuam no meio das artes plásticas e encontrou em Adèle a combinação
da juventude com a maturidade amorosa e sexual de uma adolescente.
O que acontece com as duas é a coincidência
da livre disposição de Emma e o encanto meigo, delicado e voluptuoso de Adèle. Uma
história de sensações inéditas feitas de maneira convencional pelas duas. É inegável
que o sexo e o desejo de ambas sejam o carro chefe da união e amor delas, mas
isso não significa que esse amor fique mais vulnerável ou fraco, pois ele se
torna tão marcante quanto os outros tipos de afeto quando chega ao fim. O sexo
no filme é muito bem esclarecido e desinibido. As cenas de sexo das duas são
bem estendidas e repetitivas, o que mostra o peso dele na relação das duas. Tanta
exposição dos corpos das duas e os arfares de prazer pode ser um ponto de discordância
dos espectadores, mas ao meu ponto de vista a intenção dessas cenas estendidas é
a tentativa da aproximação do comum e compartilhar com o publico cenas que
recordem às suas experiências mais intimas, o que acontece no quarto das
pessoas apaixonadas quando elas se libertam. Inserido nesse contexto está
presente o azul, representando os desejos de Adèle, em destaque para Emma.
Os planos bem fechados nos
rostos trazem a sensação de proximidade com a história das duas. Como
se fosse a representação do olhar de um personagem para o outro. O filme
inteiro tem essa estética, o retrato da face das duas, mostrando os detalhes
das expressões, seja os da pele, cabelo e pequenos pontos de beleza natural das
duas nas cenas de beijo, como também nas cenas de desespero de Adèle após o
abandono. É de se perceber na atenção aos detalhes estéticos das duas, as
minúcias de detalhes belos de Adèle (como o seu cabelo bagunçado) são
intencionais para a construção de atmosfera suntuosa da personagem, além de
seus jeitos e manias.
As três horas de filme casam
com a passagem cronologia da história e obedecem a um ritmo não acelerado, mas
também não tão lento, do pré, durante e pós Emma na vida de Adéle. A linguagem
do filme presa pelo sensitivo e a passagem rápida e resolvida do tempo não se
encaixaria com essa narrativa que tenta se mostrar próxima ao real. Na vida as
coisas demoram um pouco para acontecer, quando acontecem são intensas, e quando
terminam a dor parece não ter fim. Depois disso começa a insistência pela
superação e no fim o horizonte do recomeço começa a aparecer. Foi assim para
Adèle no filme.
Azul é a Cor Mais Quente é
sincero e indiferente de opiniões, assim com as heroínas francesas e, apesar do caráter
lírico independente, ele trata da coisa que talvez seja a mais besta e absurda
da vida - o amor - de maneira factual sem idealizações poéticas.
La Vie D’Adèle. 2013. França. Cor. 173 min.
Drama. Direção e roteiro: Abdellatif
Kechiche. Elenco: Adèle
Exarchopoulos, Alma Jodorowsky, Aurélien Recoing, Benjamin Siksou, Catherine
Salée, Fanny Maurin, Jérémie Laheurte, Léa Seydoux, Mona Walravens, Salim
Kechiouche, Sandor Funtek. Produção: Genevieve Lemal. Fotografia: Sofian
El Fani.
Adorei e compartilho do seu ponto de vista, Vyrna! O seu texto está excelente... e eu já estou programando minha próxima ida ao cinema, para rever a peça. Um ponto interessante, é a reação conservadora da plateia às cenas de sexo, risinhos, filmagens, etc.
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